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domingo, 31 de julho de 2011

superfície














impassível insistia em não me sorrir
e vidrado em seus pensamentos
mal percebeu-me
enquanto a madrugada fria
entrava pela porta da sala

e tomava os cantos vazios em nós
quase tudo limpo e em seu devido lugar
com exceção das superfícies lisas e úmidas
e dos olhos famintos se perdem
em meio ao vento

sinta o quanto estou molhada
e deixa a cordialidade para depois
sinta em cada poro meu a falta
que trago de ti

quantos mergulhos ainda
para que enfim esteja submerso
por inteiro, por algum tempo
dentro de mim?

Amnésia por doses de álcool

















(de Wile Ortros & Larissa Marques)

todo dia é um fim
por que então recomeça?
me afasta de ti pra dizer de que me quer outra vez
e depois lança ao ar as palavras injustas
sem cuidado qualquer
e começa do fim onde o fim começou

e se eu nunca menti
não foi pra preservar
as verdades em mim
são paredes da imaginação
mas quem foi que ergueu
este grande defeito entre nós
não fui eu nem você
mas acaso de pura ilusão

vamos comemorar
o princípio e o começo
não se pode negar que viver tem um preço
que é caro pagar
pra aprender abrir mão do que se conquistou

e se deixa ficar
ao meu lado pois sabe quero
manda embora outra vez
e eu vou mas também sei que quer
por loucura ou coragem
amnésia por doses de álcool
foi você que escolheu
sussurrar ao invés de falar

vamos comemorar
o princípio e o começo
não se pode negar que viver tem um preço
que é caro pagar
pra aprender abrir mão do que se conquistou



para ouvir a música clique no link abaixo:
http://soundcloud.com/wileortros/amn-sia-por-doses-de-lcool

quinta-feira, 28 de julho de 2011

acefalia lancinante

o amor híbrido
perdoa-me
as asas


visão turva
desse riste
retirante
vínculo
que insiste
abandonar
ninhos

quarta-feira, 20 de julho de 2011

amado meu



















se as noites frias
apagarem nosso passado
saiba que ainda
há o que queimar

o fogo arde ainda
em meus olhos tardios
que anseiam os seus
tão vencidos

não desisto da falta de lirismo
na verdade a ausência
por vezes me inspira
aqui não perduram
declarações de amor

a insistência vive
apenas para buscar
o que encontramos
quando nos vestimos
de nós mesmos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

quando diz que já



























não te olho como antes
percebe que algo nosso
se perdeu pra sempre
e já não posso mais
resgatar as pedras
do caminho sem volta

ergo-me farta desse
sentimento moribundo
que insiste em ruminar
e ruminar como se tivesse
eu dez estômagos
e não tenho

jaz como era
jaz como eu era
matei meus olhos
com lágrimas e poeira
que deixou quando me
ultrapassou pela estrada de chão
se não te olho como antes
é porque não te vejo mais.


(fotografia de minha autoria)

domingo, 3 de julho de 2011

quantas pedras, Sísifo?












dizem que depois de um dia ruim vem sempre outro bom
ah, utopia, utopia de convencer-se e seguir
de que vale se rasgar por verdades latentes
se são elas que hão de nos matar?

são essas quimeras que fazem ver o real
o mundo bordô ardente sorrir no centro
do lado de dentro de uma garrafa cheia
que agora vazia de conhaque

e ainda teima em afirmar lógica e sobriedade
dentro de cada ponto cego que não se tem
o mundo é cru, lateja e a bebida dissolve
é mais fácil correr que pagar pra ver a dor

o cigarro tem o dom de transformar pulmões
em fumaça tanta que o trago traz
daí se apelida erroneamente de vento
para sentir a liberdade que só é aí

mas veja bem, meu amigo-irmão
meu avô já me dizia que quem
planta vento colhe tempestades
e talvez seja mesmo verdade

e aquela quimera a qual me referia
pode destruir os moinhos
os cavalgares e lendas de Quixote
mas não destrói a realidade, não

e o sonho, aquele sonho de ser livre
é uma retórica incoerente
pra se cair no mesmo lugar de sempre
que eu sei onde é

e alguém vai te fazer ver um dia
que a liberdade depende
única e exclusivamente
do tamanho da corrente.