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domingo, 30 de outubro de 2011
escarlate
enquanto todos os sonhos
se vão com o vento seco
e com as folhas avermelhadas
que parecem rir de bobagens
arrastadas junto com o pó
ela está ali convicta
imaginando que nada poderá
tirar a luxúria de seus olhos
que miram a vastidão horizontal
de um tempo tão ido, tão ido
pobre princesa rubra
assiste passiva sua imagem
espelhada em mil faces falsas
que gargalham entre si
e ela jura que é amor
queria voltar à inocência
que havia antes do vento
arrancar-me as folhas
antes das tempestades
levarem galhos e âmbar
rica princesa rubra
assiste passiva sua imagem
espelhada em mil faces de si
e gargalha entre imagens
e ela sabe que é amor.
(chica de la fotografia: Constanza Ofelia Rodriguez)
Marcadores:
Larissa Marques poesia,
Sindri Mendes arte visual
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
"Bonjour Tristesse"
sábado deveria acordar
no mínimo Jean Seberg
ou Scarlett Johansson
e me diz: bom dia, princesa!
isso é pela devoção
a um inveterado sem cura
o belo me corrompe
sou artista, poeta
guarda seus melhores beijos
em gargalos de garrafa qualquer
que nelas reinvento
e enquanto renasce, eu morro
não há encantamento
sem mácula
ou sentimento
que não castre
calendários anacrônicos
ditam-nos sentenças puras
de não ser, sendo
viver morrendo
desce mais um
bom dia, Tristeza!
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
pinga
"Só se pode encher um vaso até a borda. Nem uma gota a mais." Caio Fernando Abreu
há um som na espera
os ponteiros marcham distantes
e os homens mal sabem do silêncio
dos jantares em família
almeja-se o calar sem culpa
a solidão perfeita
onde não se perde de si
e se encontre em egoísmo torpe
a torneira da pia pinga sobre um copo
dá o contraponto do que se passa aqui
o território traz divisa transparente e frágil
não suporta mais do que lhe cabe.
fotografia de Anderson Costa
substantivo abstrato
é quase primavera
e dela não há nada aqui
sangra desse outono
ainda seco que dilacera
que encerra um ciclo
de sofrimento e quer inexistir
feito palavras vazias
e retórica falha
a terra insiste no despeito
que brota inerte, folha velha
que pelo vento se deixa levar
e o cheiro da podridão toma as narinas
não é exemplar animal ou vegetal
não é jangada, nem flor de macieira
nem tão pouco sol alto
ou derrame de lobeira
mal se sabe se é.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
monções
não há argumentos neste lugar
só olhos vesgos de um mentir torto
tão verdadeiro quanto notas de seis
pois as de dois já existem
não peço nada além de sua presença
e nem assim se sente satisfeito
com o desprendimento grevista
sem platéias ou discurso inflamado
vermelhos, não de dor e sim de torpor
os lábios riem e mangam de repique
o piquete de elogios vazios
e críticas destrutivas
acusa-me: "mentirosa, mentirosa"
como se ser falsário e ludibriador
fosse mérito apenas dos impuros
e cruéis de plantão
nunca tive medo das palavras atravessadas
cheias de desprezo e de escárnio
pois quem desdenha em algum momento
quer apenas adquirir algo com preço de lambuja
essa liberdade sonora que prega
é tão tênue quanto fumaça no vento
e saiba que nada se perdeu
é a velha lei da relatividade
ou talvez a farpa no olho do outro
estamos sempre presos a algo que desgostamos
ou que no mínimo não nos orgulhamos muito
e a maioria dos castelos são de areia
que a onda da realidade teima em derrubar
para quem não gosta de clichês
a vida ensina que poucos saem deles
e perdi a conta de quantas rimas pobres
habitam meus poemas de baixa qualidade
e não paro mais pra contar
já não me interessa quem é
ou de quanto espaço precisa
não temo estrelas ou buracos negros
como digo as coisas acabam sem deixar de ser
e mais uma vez me olha nos olhos
simulando uma quase verdade
como se já não conhecesse a marcha
aquela de arranque que precede a fuga
tantas vezes já vi outros aqui
fazendo o mesmo que faz agora
não sabe pedir ou implorar
mas se dá à demagogia verborrágica
do confronto sem causa
desaprendi de esperar
mas nada mais há além do tempo
e ele passa rápido demais
para que eu fique só olhando.
só olhos vesgos de um mentir torto
tão verdadeiro quanto notas de seis
pois as de dois já existem
não peço nada além de sua presença
e nem assim se sente satisfeito
com o desprendimento grevista
sem platéias ou discurso inflamado
vermelhos, não de dor e sim de torpor
os lábios riem e mangam de repique
o piquete de elogios vazios
e críticas destrutivas
acusa-me: "mentirosa, mentirosa"
como se ser falsário e ludibriador
fosse mérito apenas dos impuros
e cruéis de plantão
nunca tive medo das palavras atravessadas
cheias de desprezo e de escárnio
pois quem desdenha em algum momento
quer apenas adquirir algo com preço de lambuja
essa liberdade sonora que prega
é tão tênue quanto fumaça no vento
e saiba que nada se perdeu
é a velha lei da relatividade
ou talvez a farpa no olho do outro
estamos sempre presos a algo que desgostamos
ou que no mínimo não nos orgulhamos muito
e a maioria dos castelos são de areia
que a onda da realidade teima em derrubar
para quem não gosta de clichês
a vida ensina que poucos saem deles
e perdi a conta de quantas rimas pobres
habitam meus poemas de baixa qualidade
e não paro mais pra contar
já não me interessa quem é
ou de quanto espaço precisa
não temo estrelas ou buracos negros
como digo as coisas acabam sem deixar de ser
e mais uma vez me olha nos olhos
simulando uma quase verdade
como se já não conhecesse a marcha
aquela de arranque que precede a fuga
tantas vezes já vi outros aqui
fazendo o mesmo que faz agora
não sabe pedir ou implorar
mas se dá à demagogia verborrágica
do confronto sem causa
desaprendi de esperar
mas nada mais há além do tempo
e ele passa rápido demais
para que eu fique só olhando.
o que importa?
se me trará um aperto de mão
um sorriso amigo que já não quero
e não direi mais nada para ouvir
o eco de seu nome pelas cidades sitiadas
percebe o fato de ser um homem
que mal se encara de frente?
percebe o sufoco de ser um homem
que luta enquanto todo o resto sangra?
por minha palavra é livre
poderia rasgar-me mas vejo
sua imagem cada vez que chove
e seus olhos são nuvens
e só me resta a chuva e essa saudade
se existe a fábula certa
recheada de sonhos irreais
da felicidade perfeita
agora é a poeira do Planalto Central
e logo será a chuva que não para
por seis meses...
um sorriso amigo que já não quero
e não direi mais nada para ouvir
o eco de seu nome pelas cidades sitiadas
percebe o fato de ser um homem
que mal se encara de frente?
percebe o sufoco de ser um homem
que luta enquanto todo o resto sangra?
por minha palavra é livre
poderia rasgar-me mas vejo
sua imagem cada vez que chove
e seus olhos são nuvens
e só me resta a chuva e essa saudade
se existe a fábula certa
recheada de sonhos irreais
da felicidade perfeita
agora é a poeira do Planalto Central
e logo será a chuva que não para
por seis meses...
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