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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

livro vermelho




quando falta-me
o rubor
é dia seco
como sangue denso
ensaio coágulo
escarlate
enfarto.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008



sou bem um desenho
preto e branco
caricato de um semblante
infame e descontente
de olhos virados
esbugalhados nos cantos
da face pária

nariz rasgando o céu
qual empino de revolta
e rajado de defeitos
cravados em dorso desavisado
serpente de aço
no subterrâneo metropolitano

indefino-me

talvez mero papel de abano
daqueles que se abrem
em conjugação perfeita
entregue à beleza
do movimento da mão alheia
assim no disfarce de minha vexa
por não ser mais que objeto


sou bem o desenho
opaco e acinzentado
rabisco de naif
sem olhos
sem face
preso na tentativa
de serventia
e não ter.
enviar recado cancelar apagar 20 ago
Pagu:
na vigilância discreta
quem sabe me esqueça
do que lateja

dores infindas de cobiça
carimbadas em olhos negros
sem retina
sem menina
eu
vazia por vontade

a angústia
de tua dinastia
avesso de overdose
sou embuste ambulante
sem personalidade

falo-te de teus rastros
dos hinos de adorar
dos mastros que fincaste
em minhas artérias

não há bandeiras
nem frontes
figas ou figueiras
nessa seringa
de ser

por hora
insira o silêncio
nesse tumbeiro de sonhos
que tornou-se paralisia.



(ilustração de minha autoria)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

morri duas vezes




ceguei-me do olho esquerdo
de tão desgastada
não quis ver as chagas
que eu mesma abri

antes de ferir-me
mais algumas vezes
calei a aflição
na tentativa da conversão

desferi golpes certeiros
contra carnes moles
e pensamentos impuros
até não conseguir respirar

só aprendi viver assim
consumindo-me em perdas
queda a queda
gota a gota
clamando pelo novo

mãos estrangeiras
buscaram a re-vida
em vão
morri duas vezes.


(ilustração de minha autoria)