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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

lobotomia
















optou pela convergência
total do nervo ótico
uma vez pinçada
a visão devotar-se-ia
à iniqüidade crua
do que antes
só um borrão

mas o cérebro
reprimiu-se frágil
na opção da miopia
sucumbiu diante
de tudo.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010



















ceguei-me do olho esquerdo
de tão desgastada
não quis ver as chagas
que eu mesma abri

antes de ferir-me
mais algumas vezes
calei a aflição
na tentativa da conversão

desferi golpes certeiros
contra carnes moles
e pensamentos impuros
até não conseguir respirar

só aprendi viver assim
consumindo-me em perdas
queda a queda, gota a gota
clamando pelo novo

mãos estrangeiras
buscaram a re-vida
em vão
morri duas vezes.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

expurgo





















admiro o homem
sei dos suspiros
soam melhor
que gemidos gozosos

a sensação de alívio
do encontro
da falta

suspiros são gozos
baixinhos
como quem chora
de feliz

para quase sofrer

























enganei-me nas reticências
do não dito
supondo-o subentendido
nas entrelinhas do tudo

mas nas metáforas
e paradoxos
ossos do ofício
tomei antíteses

e o trago que rasga o peito
depois de embargar
o desengano, que tenho
por salvaguarda, é efeito.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Esculpida em Carrara


























Essa sou eu, ou é ela, não sei dizer. Não sei mais quem sou eu. Talvez por isso faço bustos de mim mesma, dezenas deles espalhados pela casa e com os amigos. E mesmo que digam que se parecem comigo, eu nunca me vejo neles. Nem ao menos me reconheço em espelhos. Na verdade não há nada que me distinga das outras, tantas iguais que não se sabem mais, tanto quanto eu não me sei.
Agora estou aqui tentando rememorar o que houve de errado comigo, até que ponto está em minhas mãos isso que me tornei. Poderia dizer que chega de histórias e levar as coisas como são, como vem, mas não é assim.
Lembro de pedir para a minha mãe deitar ao meu lado até eu dormir, mas não lembro se ela se deitava comigo ou não.
Talvez seja como minha avó dizia, vida de gato, sete vidas, muitas vidas!
Eles me dizem que não queriam que fosse como sou, pois pessoas como eu não aprenderam a confiar. Querem fazer amor comigo e têm medo, o sexo é o início do fim. Não temo os homens que somem depois da primeira transa, aliás eles são os mais comuns, inofensivos.
Os que dizem que não vão a lugar algum são os que realmente me assustam, os que querem pagar para ver. Não queria que fosse assim, mas é.
Gatos mesmo que jogados de certa altura caem de pé, com as quatro patas para baixo, assim como tem que ser.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010
























meu amor
pensei em te falar
do (des) amor
nas liras espalhadas
nos (de)lírios no campo
mas o (vô)mito veio a tona
e tirou-me a fala
(di)lacerou meu verbo
que há no homem
além da dor e do martírio?
hipocrisia e pó(esia)
sou ambos
meu (ex-) amor
no silêncio guardo-me
e só (nem) eu sei de mim.