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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

arauto


























navegaria
através de tempestades
se não fosse tão incrédula
e presa a esse tempo

se o fizesse
por ti, meu amado
minha nau não
teria porto algum

o oceano me levaria
a vastas latitudes
e me esqueceria
das longitudes

sem bússola me perderia
na imensidão do caos
e a arrebentação
me enganaria

as âncoras
seriam içadas
só no fim

náufragas as palavras
só fariam par
com as pedras
e algas no fundo
do mar

ali sim,
o mais belo silêncio
e o vazio igual a espera
desse momento
nós.

sábado, 17 de setembro de 2011

dogmas




















o fantasma que mais amo
não arrasta correntes
sobre meus telhados
não caminha sobre cinzas
ou berra em maldições


me faz sorrir e chorar
faz brilhar essas cicatrizes
e pergunta: por quem morreu?
por quem foi sua luta?
pra que se arrepender?


ele vive a fugir do sol
vai embora quando amanhece
não mente, nem engana
sangra por fantasias
e sonha que sabe do amor.



(fotografia de meu amigo Otaviano Neves)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

a sintaxe da realidade

























mal as coisas se pronunciam
e já declinam sobre o real
deixam de ser
tento em vão perpetrar
mas é o fim que propago
é o fim

meus sentidos pedem a inércia
me enganam e morro pelo inimigo
o mais próximo que se diz amigo
que só me fere por ter entrado
pela porta da frente que eu abri

toma-me sem pedir o que a princípio
deveria ser apenas meu
e por fim aniquila-me sem morte
seja lenta ou honrosa
e as palavras se calam

todas

vi que mal preciso das palavras
antes muda e cega
para não interagir com esse mundo cão
se acho favo é mais que amargo
o diáfano da leveza pálida e viscosa
é mesmo o silêncio.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ruído

























é vermelho o prurido desfalecido
que insiste em minha porta

sim, escarlate como o enfarte
de outubro do ano passado

e as artérias azuis repletas de rancor
carregam o rubro assim como as veias

sim, encarnado como sangue
carmim é a cretina palavra

sim, o despeito tem cor
e insiste nesse leito

o choro desemboca no travesseiro
e tem sufocada a vontade de som

desespero e silêncio
são meu nome e sobrenome.

domingo, 4 de setembro de 2011

poderia mentir



















dizer que estarei aqui
esperando por você
que aceito sua inconstância
e que distâncias não apartam-nos
dia após dia

poderia compactuar com sua posição
dizendo que sou forte e resisto
confirmar minha capacidade de superar
de recuperar nas adversidades
noite após noite

nesses tempos aprendi
a chorar com desespero
a não me disfarçar mais em embustes
e mesmo no desvario ser real
eu após eu

saiba, meu amor, que só
o sol é assim resiliente
nasce além de sua vontade
e vem absoluto e insistente
imune a suas verdades