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domingo, 3 de julho de 2011

quantas pedras, Sísifo?












dizem que depois de um dia ruim vem sempre outro bom
ah, utopia, utopia de convencer-se e seguir
de que vale se rasgar por verdades latentes
se são elas que hão de nos matar?

são essas quimeras que fazem ver o real
o mundo bordô ardente sorrir no centro
do lado de dentro de uma garrafa cheia
que agora vazia de conhaque

e ainda teima em afirmar lógica e sobriedade
dentro de cada ponto cego que não se tem
o mundo é cru, lateja e a bebida dissolve
é mais fácil correr que pagar pra ver a dor

o cigarro tem o dom de transformar pulmões
em fumaça tanta que o trago traz
daí se apelida erroneamente de vento
para sentir a liberdade que só é aí

mas veja bem, meu amigo-irmão
meu avô já me dizia que quem
planta vento colhe tempestades
e talvez seja mesmo verdade

e aquela quimera a qual me referia
pode destruir os moinhos
os cavalgares e lendas de Quixote
mas não destrói a realidade, não

e o sonho, aquele sonho de ser livre
é uma retórica incoerente
pra se cair no mesmo lugar de sempre
que eu sei onde é

e alguém vai te fazer ver um dia
que a liberdade depende
única e exclusivamente
do tamanho da corrente.

2 comentários:

Celso Mendes disse...

A liberdade é tão relativa, não é? Qual o limite que se deseja ultrapassar? Estaríamos condenados a empurrar uma pedra até o topo só para vê-la descer e repetir a ação indefinidamente e ciclicamente? A última estrofe é particularmente brilhante ao falar das limitações a que cada um de nós estamos submetidos. Bom, divaguei demais eu acho...rs
Poemaço, Larissa!

beijo.

Larissa Marques - LM@rq disse...

divagou nada, acho que ainda não encontrei um leitor tão cuidadoso quanto você, Celso!
obrigada pelo carinho de sempre, beijo!